A falsa satisfação com aquisição de coisas
Outro dia ouvi um relato em um podcast que ficou ecoando na minha cabeça. A pessoa contava sobre uma atividade proposta em um curso da The School of Life. Era um gráfico simples, com dois eixos: no eixo X, ela deveria marcar quanto aquela experiência tinha custado. No eixo Y, quanto aquilo tinha proporcionado de felicidade ou satisfação.


Com esse gráfico em mãos, a pessoa começou a listar coisas que viveu nos últimos meses. E percebeu algo inesperado.
Os pontos mais altos no eixo da felicidade estavam ligados a experiências simples e baratas: um jantar despretensioso com amigos, uma tarde de conversa com a mãe, uma caminhada sem celular.
Já as experiências mais caras — uma tênis novo, um celular de última geração, um jantar caríssimo — tinham custado muito, mas ficado bem lá embaixo no eixo da alegria. Tinham gerado pouca ou nenhuma satisfação real.
E aí, vinha a surpresa. Constatar por A+B que as experiências mais marcantes, mais significativas, mais vivas… não eram as mais caras. Coisas simples. Baratas. Mas que subiram alto no eixo da felicidade. Já do outro lado do gráfico, estavam compras de valor alto — roupas, sapatos, eletrônicos, móveis — que tinham custado muito… e entregado pouco. Quase nada.
Essa imagem me lembrou de várias situações da vida real. Quantas vezes você já comprou algo achando que aquilo ia te deixar mais feliz, mais confiante, mais “resolvido”? E depois percebeu que o efeito durou minutos? Horas, com sorte.
Isso acontece porque muitas vezes a compra não é sobre o que estamos adquirindo. É sobre o que estamos tentando sentir. Tentamos preencher o cansaço com uma caixa nova. Tentamos silenciar a solidão com uma sacola cheia. Queremos anestesiar o vazio com o clique do “finalizar compra”.
Mas a verdade é que, muitas vezes, o que compramos não resolve o que estamos sentindo. Pode até parecer que funcionou por algumas horas — mas logo a inquietação volta. Porque o problema nunca foi a falta daquele objeto. Era a falta de descanso, de conexão, de sentido. A compra vira um remendo em cima de um buraco que continua crescendo. E aí vem a ressaca: o prazer vai embora, mas a fatura chega, o boleto fica. A gente não se sente mais feliz. Só mais cansado — e mais distante daquilo que realmente importa.
Isso não quer dizer que você não possa comprar nada. Que tenha que viver de pão com ovo e camiseta branca para sempre. Não é isso. A questão é: o que você está esperando sentir com essa compra?
E o que, de fato, te faz sentir viva/o, conectada/o, presente? Se você observar bem, vai perceber que são as pequenas experiências — aquelas que você não compra por impulso, mas constrói com intenção — que deixam lembrança, significado e, de verdade, alegria.
Quanto custa o dia sem pressa com quem você ama? A leitura que te inspira a mudar? A caminhada em silêncio?
E quanto custou mesmo aquele par de tênis que você nem lembra onde está?
A relação com o dinheiro melhora muito quando a gente para de comprar para suprir carência — e começa a gastar com o que tem valor de verdade.
Não é sobre ter menos. É sobre ter com mais consciência.
Se esse texto fez sentido para você, recomendo escutar o episódio 17 do Podcast Terapia Financeira, disponível no Spotify. Eu, Bruna, especialista em finanças e comportamento, e a psicóloga Daniela Ghorayeb, falamos sobre minimalismo financeiro — e por que o excesso de coisas, muitas vezes, é só o sintoma de um vazio emocional não olhado.
Beijos da Bo$$a.
@brunabossafinancas
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